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Querido Líder, Skynet

Alguns detalhes do sistema operacional nacional da Coréia do Norte, com o nome óbvio de Red Star, emergiram ontem (em russo com mais imagens aqui), e mexeram novamente nas idéias sobre sistemas (políticos e econômicos), máquinas e pessoas. Outra máquina para fazer pensar foi esta discussão de algumas semanas atrás no Slashdot, um arranca-rabo sobre um tema do Gnome que revelou uma verdade inconveniente: o software livre não é uma democracia.

Mas antes de definir uma coisa como democracia, descrever sua economia, organização econômica e social, podemos abstrair algumas de suas raízes, e ver que a ciência por trás do que acontece hoje é tão mais pura e que são as paixões e motivações humanas que “estragam” tudo.

Nem mesmo Kim Jong-Il está acima do root!

Acadêmicos como Adam Smith, Karl Marx e Alan Turing estudaram as fundações de alguns sistemas. Os dois primeiros investigaram sistemas econômicos, descrevendo conceitos observados na “natureza” como mercado, capital, valor. Estudaram os meios através dos quais estes conceitos interagem e se transformam, se acumulam ou esgotam. Turing estudou sistemas matemáticos que descrevem de forma simples e acurada o processamento de informações, base para os computadores atuais.

Ao olhar para um gráfico que representa a relação entre oferta e procura, ou uma máquina de Turing (um autômato), a simplicidade que eles emanam é quase poética. É puro, é a verdade destilada.

A realidade é muito maior do que a relação entre duas entidades, ou n estados. Isto é inegável. Para um modelo englobar o mundo todo, ele deve ser tão grande quanto o Mundo, e isto é impraticável. Podemos viver com isso, e todo cientista que se preze leva isto consigo desde os seus primeiros estudos. Porém, quando essas abstrações são levadas ao mundo real, outro fator instável é adicionado: o ser humano.

Humanos são f...

Tomemos por primeiro exemplo Lênin. Ele e seus colegas acreditavam ter visto a verdade nos estudos de Marx, e trabalharam, conspiraram e lutaram até estabelecer um regime baseado nesta verdade. Mas, como todos sabemos, o que se manifestou na Rússia a partir de 1917 não foi o que estava escrito em “O Capital”, mas sim o que Lênin acreditava ser o que estava escrito. Através de sua liderança, emanada por carisma, estudo ou violência, ele implantou um regime único no Mundo, mas falho como todos.

No terceiro link deste post, a discussão sobre a posição de um simples botão em uma janela revelou outro exemplo através do qual a liderança humana deturpa a clareza de um sistema. Desta vez, o sistema é o desenvolvimento de software sob os princípios do software livre, através do qual todos podem participar no desenvolvimento de programas de computador. Porém, dentro de cada projeto que segue esta filosofia, a liderança deste possui o maior conhecimento (ou simplesmente chegou nesta posição primeiro), e toma decisões subjetivas, que podem ou não ser justificadas baseadas neste conhecimento. Estando na posição privilegiada, eles podem simplesmente ditar novas verdades.

Nos dois exemplos acima, depende do povo aceitar estas ditaduras ou escolher alternativas. Seja pelo voto ou revolução em uma organização social  ou um fork no repositório do projeto de software livre. Mas para fazer isto devemos estar preparados. Entender o sistema que queremos alterar. Tudo deve ser baseado na beleza da ciência pura, do conhecimento e da vivência. Sem esta base (educação) retornamos à brutalidade, e se formos depender disso, é melhor deixar que as máquinas decidam nosso futuro mesmo.